sábado, 13 de junho de 2015

O CEGO E O CAÇADOR

CURSO - HORA DO CONTO


Neuropsicopedagoga Daniela Alonso Vieira

O Cego e o Caçador
 
Era uma vez um homem cego que morava numa palhoça, com sua irmã, numa aldeia na orla da Floresta. Esse homem era muito inteligente. Apesar de seus olhos não enxergarem nada, ele parecia saber mais sobre o mundo do que as pessoas cujos olhos viam tudo. Costumava sentar-se à porta de sua palhoça e conversar com quem passava. Quando alguém tinha problemas, perguntava-lhe o que fazer e ele sempre dava um bom conselho. 
Quando alguém queria saber alguma coisa, ele dizia, e suas respostas eram sempre corretas. As pessoas balançavam a cabeça, admiradas:
 - Como é que você consegue saber tanta coisa, sem enxergar? 
E o cego sorria, dizendo: 
- É que eu enxergo com os ouvidos. 
Bem, um dia a irmã do cego se apaixonou. Ela se apaixonou por um caçador de outra aldeia. E logo o caçador se casou com a irmã do cego. Depois da festa de casamento, o caçador foi morar na palhoça, com a esposa. Mas o caçador não tinha paciência com o irmão da mulher, não Tinha nenhuma paciência com o cego. 
- Para que serve um homem cego? - ele dizia.
 E a mulher respondia:
 - Ora, marido, ele sabe mais coisas do mundo do que as pessoas que enxergam. 
O caçador ria: 
- Ha, ha, ha, o que pode saber um cego, que vive na escuridão? Ha, ha, ha... 
Todos os dias, o caçador ia para a floresta com seus alçapões, lanças e flechas. E todas as tardes, quando o caçador voltava à aldeia, o cego dizia:
 - Por favor, amanhã deixe-me ir com você caçar na floresta. 
Mas o caçador balançava a cabeça:
 - Para que serve um homem cego? 
Dias, semanas e meses se passavam, e todas as tardes o homem cego pedia: 
- Por favor, amanhã deixe-me caçar também. E todas as tardes o caçador dizia que não. 
Uma tarde, porém, o caçador chegou de bom humor. Tinha trazido para casa uma bela caça, uma gazela bem gorda. Sua mulher temperou e assou a carne e, quando eles acabaram de comer, o caçador disse ao homem cego: 
- Pois bem, amanhã você vai caçar comigo. 
Assim, na manhã seguinte os dois foram juntos para a floresta, o caçador carregando seus alçapões, lanças e flechas, e conduzindo o cego pela mão, por entre as árvores. Andaram horas e horas. Então, de repente, o cego parou e puxou a mão do caçador: 
- Psss, um leão!
 O caçador olhou ao redor e não viu nada. 
- É um leão, sim, mas está tudo bem. Ele não está faminto e está dormindo profundamente. Não vai nos fazer mal. Continuaram seu caminho e, de fato, encontraram um leão dormindo a sono solto, debaixo de uma árvore. Depois que passaram pelo animal, o caçador perguntou:
 - Como você sabia do leão? 
- É que eu enxergo com os ouvidos. 
Andaram por mais quatro horas, e então o cego puxou de novo a mão do caçador:
 - Psss, um elefante! O caçador olhou ao redor e não viu nada.
 - É um elefante, sim, mas tudo bem. Ele está dentro de uma poça d\'água e não vai nos fazer mal. 
Continuaram seu caminho e, de fato, encontraram um elefante imenso, chapinhando numa poça d\'água, esguichando lama nas próprias costas. Depois que passaram pelo animal, o caçador perguntou:
 - Como você sabia do elefante?
 - É que eu enxergo com os ouvidos. 
Continuaram seu caminho, se aprofundando cada vez mais na floresta, até chegarem a uma clareira. O caçador disse: 
- Vamos deixar nossos alçapões aqui. 
O caçador armou um alçapão e ensinou o cego a armar o outro. Quando os dois alçapões estavam armados, o caçador disse: 
- Amanhã vamos voltar para ver o que pegamos. 
E os dois voltaram juntos para a aldeia. Na manhã seguinte, acordaram cedo. Mais uma vez, foram andando pela floresta. O caçador se ofereceu para segurar a mão do cego, mas o cego disse:
 - Não, agora já conheço o caminho. 
Dessa vez, o homem cego foi andando na frente. Não tropeçou em nenhuma raiz nem toco de árvore. Não errou o caminho nem uma vez. Andaram, andaram, até chegarem à clareira em que tinham armado os alçapões. De longe, o caçador viu que havia um pássaro preso em cada alçapão. De longe, viu que o pássaro preso em seu alçapão era pequeno e cinzento e que o pássaro preso no alçapão do cego era lindo, com penas verdes, vermelhas e douradas. - Sente-se ali - ele disse. 
- Cada um de nós apanhou um pássaro.
 Vou tirá-los dos alçapões. 
O cego sentou-se e o caçador foi até os alçapões, pensando:
 - Um homem que não enxerga nunca vai perceber a diferença. 
E o que foi que ele fez? 
Deu ao cego o pequeno pássaro cinzento e ficou com o lindo pássaro de penas verdes, vermelhas e douradas. 
O cego pegou o pássaro cinzento nas mãos, levantou-se e os dois rumaram de volta para casa. Andaram, andaram, e a certa altura o caçador disse: 
- Já que você é tão inteligente e enxerga com os ouvidos, responda uma coisa: por que há tanta desavença, ódio e guerra neste mundo?
 O cego respondeu: 
- Porque este mundo está cheio de gente como você, que pega o que não é seu. 
O caçador se encheu de vergonha. Pegou o pássaro cinzento da mão do cego e deu-lhe o pássaro lindo, de penas verdes, vermelhas e douradas. 
- Desculpe - ele disse. 
Os dois continuaram andando, e a certa altura o caçador disse: 
- Já que você é tão inteligente e enxerga com os ouvidos, responda uma coisa: por que há tanto amor, bondade e conciliação neste mundo? 
O cego respondeu: 
- Porque este mundo está cheio de gente como você, que aprende com seus próprios erros. Os dois continuaram andando, até chegarem à aldeia.
 E, a partir daquele dia, quando alguém perguntava ao cego:
 - Como é que você consegue saber tanta coisa, sem enxergar?, 
Era o caçador que respondia: 
- É que ele enxerga com os ouvidos... e ouve com o coração. 
Conto da África Ocidental De Hugh Lupton, do livro “Histórias de Sabedoria e Encantamento”


 

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A Princesa que tudo via


A Princesa que tudo via
Era uma vez uma princesa que conseguia tudo o que queria. É que, no alto da torre mais antiga de seu palácio, havia uma sala circundada por doze janelas mágicas. Através delas, a princesa podia ver qualquer coisa que se passasse no seu reino e até mesmos nos reinos de além-mar. Bastava pensar no que queria ver e olhar por uma das janelas; se a primeira delas não lhe mostrasse nada é porque o que procurava estava muito longe ou muito bem escondido. Mas logo na segunda ou na terceira janela aparecia a imagem desejada. As janelas revelavam desde as alturas inatingíveis das nuvens às profundezas da terra e do mar. Nada escapava á princesa: ninguém saia do seu reino sem que ela soubesse, nenhum inimigo se aproximava sem que ela estivesse prevenida. Assim, era natural que seu poder se tornasse cada vez maior e que muitos príncipes pretendessem se casar com ela.
A princesa, todavia, não encontrava nenhum pretendente à sua altura. É bom dizer que, com tanto poder, ela se tornara um pouco arrogante, cheia de si. Decidiu, então, lançar um desafio: aquele que conseguisse se esconder dela, pelo menos uma vez, se tornaria o seu príncipe consorte.
Os príncipes e outros nobres foram os primeiros a se apresentar. A princesa dava a todos eles três chances. A cada dia podiam tentar um esconderijo diferente. Somente no final do dia, ao pôr-do-sol, a princesa subia à torre e consultava suas janelas.
Um dos príncipes pretendentes ouvira falar que “nada mais escondido que agulha no palheiro”, e, seguindo à risca a idéia, entrou num paiol de milho e cobriu-se de palha de tal maneira que nem mesmo as galinhas que ali vierem ciscar deram pela sua presença. Mas bastou a princesa olhar pela primeira janela e ele foi descoberto.
O príncipe não se deu por vencido: no dia seguinte, mandou que seus servos cavassem no sono um túnel profundo, onde ele ficou bem escondido, coberto de pedras. E já quase ia se sufocando quando a princesa, no fim da tarde, olhou pelas suas janelas e mandou buscar.
Como ultima tentativa, o príncipe tomou um navio e navegou para uma ilha distante. A princesa olhou pela primeira janela e nada viu; olhou pela segunda e nem precisou chegar à terceira para mandar um emissário dizer ao infeliz pretendente que suas chances estavam esgotadas.
E depois dos nobres vieram os plebeus. Cada um inventava um esconderijo mais extravagante, porém poucas vezes a princesa precisou chegar à segunda janela para descobri-lo. Um a um os pretendentes foram sendo dispensados.
Um dia, um jovem e bravo soldado que voltava de uma guerra num país distante, ouviu falar da princesa. Atraído pelo desafio, decidiu ir até o palácio e tentar sua sorte.
No meio do caminho, deparou-se o soldado com um carneirinho que balia desesperado, preso nos arames farpados de uma cera. O rapaz desembaraçou-o com cuidado. Vendo-se livre, o agradecido animal assim lhe falou:
- Eu sou o príncipe dos carneiros. Meu pai, o rei, gostará de recompensá-lo. Pegue esse punhado de lã e, quando precisar de mim,esfregue-o,chamando-me.
O soldado ficou maravilhado com o que ouviu, guardou a lã e seguiu em frente. Logo adiante, encontrou uma águia que tentava se livrar de uma armadilha. Cuidadosamente ele a soltou e ouvi dela o seguinte:
- Eu sou a rainha das águias e você me salvou. Se um dia precisar de ajuda, esfregue esta pena e chame por mim.
O jovem agradeceu o presente e continuou seu caminho. Logo antes de chegar ao palácio, sua atenção foi atraída por uma formiga que se debatia numa poça d’água. Salvando o bichinho de morrer afogado, mais uma vez ele ouviu:
- Eu sou a rainha das formigas. Guarde esta folha e, se precisar de algo, esfregue-a e chame por mim.
O soldado guardou também a folha com cuidado, logo chegou ao palácio e pediu para ser apresentado à princesa. No dia seguinte, começou a procurar um lugar para se esconder, porém todos os esconderijos lhe pareciam óbvios. Lembrou-se então do carneirinho. Esfregou o punhado de lã e pediu ajuda para esconder-se.
Na mesma hora apareceu um rebanho de carneiros. O próprio soldado, maravilhado, viu-se transformado em carneiro e misturado ao grupo.
Ao pôr-do-sol a princesa subiu à torre. Olhou pela primeira janela e nada viu. A segunda janela, porém, mostrou-lhe o carneiro e a princesa soube que era ele o pretendente. Na manha seguinte, retomando a forma humana, o soldado se apresentou à princesa, que lhe disse:
- Entre os carneiros, tu eras o que ficava junto ao pequenino.
O rapaz reconhecendo que fora descoberto, saiu do palácio, dirigiu-se à orla da floresta, esfregando a pena mágica, chamou pela águia.
Imediatamente a rainha das águias apareceu e transportou-o pelos ares. Levou-o até a mais escarpada das montanhas, transformou-o num ovo e misturou-o aos demais ovos de seu ninho. Depois, ajeito-se por cima deles, cobrindo-os todos e dali não saiu o dia inteiro.
Naquela tarde, quando a princesa consultou a primeira janela, nada pôde descobrir; e nem na segunda, mais a terceira mostrou-lhe o ninho. No dia seguinte, o soldado, apresentou-se a ela, ouviu:
- Entre todos os ovos da águia, tu eras o que ficava mais no centro.
Vencido mais uma vez, o jovem saiu do palácio, procurou um lugar isolado e, esfregando a folha, sua última esperança. Chamou pela rainha das formigas.
- Desta vez – disse ele, depois de lhe contar sua história -, você tem de pensar num esconderijo muito, muito especial. Nada escapa aos olhos da princesa!
- Nada? – duvidou a formiga. – Pois eu sei de algo que ela não vê!
E, transformando o rapaz numa formiguinha, levou-o até os aposentos da princesa.
- Dê um jeito de esconder-se dentro do vestido – aconselhou a formiga. E desapareceu.
O soldado, agora formiga, observou bem a princesa e suas sete pesadas saias. E achou melhor subir pelo vestido dela e escorregar pelo decote. E ali, dentro do corpete da princesa, ele ficou quietinho, esperando o dia passar.
Quando a tarde chegou, a princesa subiu à torre. Olhou pela primeira janela e nada pode vislumbrar, olhou pela segunda e também nada viu. Tampouco a terceira mostrou-lhe alguma coisa e a princesa, já inquieta, passou à quarta janela. E assim foi, de janela em janela, até chegar à décima segunda. Entretanto, por mais que olhasse, ela não conseguia enxergar o que queria.
A noite toda ela passou a consultar as janelas. Em vão. Quando os primeiros raios de sol iluminaram a torre, a princesa, irritada, gritou:
- Desisto! Pode aparecer, que eu me caso com você!
O rapaz saiu, então, de dentro do vestido dela, desceu ao chão, e retomando sua forma humana, confessou à princesa seu esconderijo.
A princesa quis brigar, mas acabou rindo, divertida com a história. O casamento foi realizado naquele mesmo dia e os dois foram sempre, sempre felizes.



Os sons do silêncio

 






CURSO – “HORA DO CONTO

 

Os sons do silêncio

 

Um rei mandou seu filho estudar no templo de um grande mestre com o objetivo de prepará-lo para ser uma grande pessoa. 

Quando o príncipe chegou ao templo, o mestre o mandou sozinho para uma floresta. 

Ele deveria voltar um ano depois, com a tarefa de descrever todos os sons da floresta. 

Quando o príncipe retornou ao templo, após um ano, o mestre lhe pediu para descrever todos os sons que conseguira ouvir. 

Então disse o príncipe: 

"Mestre, pude ouvir o canto dos pássaros, o barulho das folhas, o alvoroço dos beija-flores, a brisa batendo na grama, o zumbido das abelhas, o barulho do vento cortando os céus..."

E ao terminar o seu relato, o mestre pediu que o príncipe retornasse a floresta, para ouvir tudo o mais que fosse possível. 

Apesar de intrigado, o príncipe obedeceu a ordem do mestre, pensando: 

"Não entendo, eu já distingui todos os sons da floresta..." 

Por dias e noites ficou sozinho ouvindo, ouvindo, ouvindo... mas não conseguiu distingir nada de novo além daquilo que havia dito ao mestre. 

Porém, certa manhã, começou a distinguir sons vagos, diferentes de tudo o que ouvira antes. 

E quanto mais prestava atenção, mais claros os sons se tornavam. 

Uma sensação de encantamento tomou conta do rapaz. 

Pensou: "Esses devem ser os sons que o mestre queria que eu ouvisse..." 

E sem pressa, ficou ali ouvindo e ouvindo, pacientemente. 

Queria ter certeza de que estava no caminho certo. 

Quando retornou ao templo, o mestre lhe perguntou o que mais conseguira ouvir. 

Paciente e respeitosamente o príncipe disse: 

"Mestre, quando prestei atenção pude ouvir o inaudível som das flores se abrindo, o som do sol nascendo e aquecendo a terra e da grama bebendo o orvalho da noite... "

O mestre sorrindo, acenou com a cabeça em sinal de aprovação, e disse: 

"Ouvir o inaudível é ter a calma necessária para se tornar uma grande pessoa.
Apenas quando se aprende a ouvir o coração das pessoas, seus sentimentos mudos, seus medos não confessados e suas queixas silenciosas, uma pessoa pode inspirar confiança ao seu redor; entender o que está errado e atender as reais necessidades de cada um. 
A morte do espírito começa quando as pessoas ouvem apenas as palavras pronunciadas pela boca, sem se atentarem no que vai no interior das pessoas para ouvir os seus sentimentos, desejos e opiniões reais.
É preciso, portanto, ouvir o lado inaudível das coisas, o lado não mensurado, mas que tem o seu valor, pois é o lado mais importante do ser humano..."

 

 

http://www.metaforas.com.br/os-sons-do-silencio

 

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quarta-feira, 10 de junho de 2015

ALFABETIZAÇÃO Alfabetizada, sim ou não? Toda criança deve estar plenamente alfabetizada aos 8 anos. Mas nem sempre isso acontece. Como resolver esse problema?

Uma das frases mais repetidas por educadores é: nenhuma criança deve ser deixada para trás. Ela dá a entender que existe, sim, uma idade ideal para que a aprendizagem aconteça de modo a que toda criança, mesmo respeitado seu ritmo próprio, seja capaz de acompanhar o grupo a que pertence. Entretanto, pesquisas têm demonstrado que a defasagem existe desde o início do Ensino Fundamental, base da educação, quando a criança de oito anos completos não se mostra muitas vezes capaz de ler um texto simples e escrever frases curtas - e deveria! 

AlfabetizaçãoEspecial Alfabetização 
Dicas e informações para melhorar a aprendizagem da leitura e escrita de crianças e adultos.

 

Por que isso acontece? "Alfabetização é um processo cognitivamente lento, e linguisticamente também", explica a educadora Magda Soares, um dos nomes de maior prestígio no assunto no País. "O primeiro contato deve ser feito durante a Educação Infantil, mas não é o que tem acontecido no Brasil, onde há uma resistência em introduzir a criança na alfabetização desde o início de vida escolar, optando apenas em orientá-la socialmente". E o que seria, nesse caso, introduzir? "A criança é levada a perceber que as palavras escritas no livro que a professora transforma em sons quando lê para ela são formadas por letras, e que as letras representam sons da fala", detalha Magda. Dessa forma, a criança ganha consciência desde cedo de que a fala é um conjunto de sons, que vai registrar mais tarde com a escrita.


De acordo com o último Plano Nacional de Educação (PNE), crianças devem estar alfabetizadas até os oito anos, mostrando-se "... capazes de ler e escrever um pequeno texto, e de fazer inferências a respeito, o que atesta a compreensão sobre o que leram", realça Inês Kisil Miskalo, gerente-executiva de Educação do Instituto Ayrton Senna, em São Paulo. Ou ainda, como detalha oficialmente o PNAIC (Plano Nacional pela Alfabetização na Idade Certa): "Estar alfabetizado significa ser capaz de interagir por meios de textos escritos em diferentes situações; ler e produzir textos para atender a diferentes propósitos - a criança alfabetizada compreende o sistema alfabético de escrita, sendo capaz de ler e escrever, com autonomia, textos de circulação social que tratem de temáticas familiares ao aprendiz". Porém, segundo os resultados da Prova Brasil de 2012, apenas 30% dos alunos do 3º ano do Ensino Fundamental (ou seja, crianças de oito anos, em sua maioria) demonstraram ter aprendizagem adequada em escrita - muito longe, portanto da meta oficial.


O que isso significa na prática escolar? A criança, que apresenta dificuldades, não consegue acompanhar as atividades que o professor dá para a classe, o professor diz que o problema não é dele, mas sim da família que, por sua vez, devolve para a escola a culpa pela situação. Ou seja: nem escola nem família assume a responsabilidade, deixando a criança sozinha, logo ela, a personagem central de um processo em andamento, o da alfabetização. E o mais importante é que "o fracasso, em 99% dos casos, não é do aluno, mas sim de como se trabalhou com ele", diz Inês Kisil Miskalo, do Instituto Ayrton Senna.


Quando a alfabetização não aconteceu como manda o figurino, a criança fica bem para trás do desempenho do seu grupo. Começa - e de modo cascata - a não aprender o que deveria, seja em língua portuguesa, seja do que dela deriva: afinal, até para resolver uma conta de matemática ela terá de ler e compreender o enunciado. Assim, o que parece ser problema exclusivo de uma criança se torna problema do Brasil. Em redes públicas de ensino espalhadas País afora, mais de 30% dos alunos estudam em séries fora da idade ideal no Ensino Fundamental, sendo mesmo possível que até 60% desse total demonstre não terem sido alfabetizados corretamente. 
Como reverter essa situação? Para Inês Kisil Miskalo, do Instituto Ayrton Senna, é vital investir na formação dos professores alfabetizadores, que "têm dificuldade em lidar com o que acontece em sala de aula, pois foram trabalhadas na universidade muito mais na teoria do que na prática, e é justamente de prática que eles precisam ao tratar da alfabetização de uma criança". E, se muitos professores ainda não conseguem superar as dificuldades que atrapalham a criança no contato com as primeiras letras, o que dizer da família? Como detectar os sinais de que algo deu errado, melhor, não está correndo como deveria, ajudando a escola a diagnosticar a alfabetização do seu filho? A seguir, dicas de como os pais devem proceder no dia a dia a partir da experiência das especialistas e assim terem controle sobre o andamento do aprendizado, tanto da leitura quanto da escrita. Lembrem-se: criança bem alfabetizada é criança preparada para nunca mais parar em sua vida de estudante.

segunda-feira, 8 de junho de 2015

TURMA DO CURSO "HORA DO CONTO"


CURSO INTERPRETAÇÃO DO DESENHO INFANTIL

Nesse sábado teremos o curso "Interpretação do Desenho Infantil"
Dia 13 de junho das 09h às 13h.
Mais de que uma atividade lúdica, fazer e colorir desenhos tem um papel importante no desenvolvimento infantil. Por meio do desenho a criança expressa suas emoções, opiniões, medos, dúvidas e características da sua personalidade. Não é por acaso que o desenho é mais uma ferramenta de observação, preciosa nas avaliações pedagógicas psicopedagógicas e psicológicas.
Venha entender um pouco mais desse universo.

terça-feira, 2 de junho de 2015

O brincar

A criança e o brincar são contextos indissociáveis, o brincar é tão essencial à criança quanto o trabalho é para os adultos. Não se pode pensar na ideia de ter uma criança sem dar-lhe tempo e propiciar-lhe momentos de ser e de se sentir criança. A criança que não brinca não aprende, não tem interesse, não tem entusiasmo, não demonstra sensibilidade e não desenvolve afetividade. Daí a necessidade de compreender o brincar como uma linguagem infantil, uma maneira que as crianças pequenas utilizam para falar não convencionalmente, mas para se expressar e demonstrar seus sentimentos, suas vontades, suas inquietudes.

Nomes próprios

Por que alfabetizar com nome próprio?

A importância de trabalhar com o nome para dar início às reflexões sobre o sistema de escrita na Educação Infantil

Maria. João. Antônio. Cecília. Fernanda. Imagine se não tivéssemos um nome. No meio de milhões de outras pessoas, como seríamos diferenciados? A importância dessa palavra levou muitos linguistas e antropólogos a acreditar que a escrita foi fonetizada por causa dos nomes próprios, uma vez que os pictogramas não davam conta de codificá-los e registrar a diversidade de indivíduos. Atualmente, é difícil conceber uma sociedade que não utiliza o nome próprio para registrar a diferença – e, por conseguinte, a identidade – de cada membro. 

Diante disso, como pensar, então, numa forma mais significativa para dar início à alfabetização escolar?

Foram as descobertas sobre a origem e o desenvolvimento da escrita, conhecidos como psicogênese (leia mais sobre a Psicogênese da Língua Escrita, de Emilia Ferreiro e Ana Teberosky, abaixo), que evidenciaram os processos de aprendizado das crianças e questionaram os métodos tradicionais de alfabetização, baseados na cópia de famílias silábicas. Com base nos estudos da pesquisadora argentina, a criança se tornou protagonista da própria aprendizagem. Desafiada pelas atividades e pelas intervenções do professor, a criança investiga, testa ideias, repensa, corrige. Aos poucos, se apropria do sistema de escrita.

Na etapa inicial de alfabetização, o papel do professor é ampliar, de maneira significativa, a inserção das crianças no universo da escrita, com o qual elas já têm contato por meio de, por exemplo, cartazes que veem na rua, da televisão e das listas de compras que seus pais fazem. “Não podemos dizer que se inicia o trabalho com nomes na Educação Infantil, mas que se dá continuidade a esse processo de alfabetização, que já estava acontecendo no ambiente familiar, de forma mais intencional e sistemática”, explica Andréa Luize, coordenadora do Núcleo de Práticas de Linguagem da Escola da Vila, em São Paulo. E nada melhor que uma palavra estável – não importa onde a criança veja seu nome, ele sempre estará escrito do mesmo jeito – para começar esse trabalho.

As crianças, aliás, intuem a importância do nome mesmo sem saber escrever. A psicolinguista Ana Teberosky, no livro Psicopedagogia da Linguagem Escrita, destaca a precoce tendência infantil a marcar suas produções, ainda que em forma de garatuja. Quando chegam à escola, essas crianças passam a dividir o espaço com muitos outros pequenos. Por isso, percebem que o nome delas adquire muito sentidoquando identificam seus objetos pessoais, como mochilas e lancheiras. “Socialmente, a escrita do nome ganha relevância”, diz Andréa Luize.

Do nome próprio à compreensão do sistema alfabético de escrita

Na realidade da sala de aula, como utilizar essa palavra cheia de sentido? Beatriz Gouveia, coordenadora de projetos do Instituto Avisa Lá e professora da pós-graduação em Alfabetização do Instituto Superior Vera Cruz, diz que o trabalho com os nomes próprios deve ter objetivos de aprendizagem diferentes, de acordo com a faixa etária dos alunos. “Nas turmas de 2 e 3 anos, por exemplo, a preocupação é fazer com que a criança reflita sobre as marcações dos pertences e sobre a sua identidade”, explica. Assim, ela se enxerga como um ser distinto dos outros que a rodeiam.

Já nas turmas de 4 e 5 anos, o nome passa a ser um contexto para a reflexão sobre o próprio sistema de escrita. À medida que vão se apropriando do sistema e percebendo suas regularidades, como quantidade e disposição das letras e combinação dos sons, os pequenos passam a utilizar esses conhecimentos adquiridos para descobrir e escrever novas palavras. “O nome próprio será um referencial importantíssimo para a leitura e escrita de outros textos e é o professor que propõe às crianças recorrer a essas fontes de informação para que resolvam um problema”, diz Diana Grunfeld, especialista em didática da alfabetização e membro da equipe de coordenação da Rede Latino-americana de Alfabetização.

Nos próximos dois blocos deste especial, você encontrará propostas de atividades e de intervençõesque permitem às crianças avançarem em seus conhecimentos sobre a escrita.

As principais referências sobre o aprendizado da língua escrita

O trabalho com nome próprio na sala de aula já virou objeto de muitas pesquisas. No entanto, alguns estudos se tornaram referência para quem quer entender como se dá o processo de aquisição da língua escrita pelas crianças e qual o papel do professor nesse caminho. Abaixo, separamos três textos que podem contribuir muito para sua formação como professor alfabetizador. Clique na capa das obras para saber mais.