quarta-feira, 10 de junho de 2015

ALFABETIZAÇÃO Alfabetizada, sim ou não? Toda criança deve estar plenamente alfabetizada aos 8 anos. Mas nem sempre isso acontece. Como resolver esse problema?

Uma das frases mais repetidas por educadores é: nenhuma criança deve ser deixada para trás. Ela dá a entender que existe, sim, uma idade ideal para que a aprendizagem aconteça de modo a que toda criança, mesmo respeitado seu ritmo próprio, seja capaz de acompanhar o grupo a que pertence. Entretanto, pesquisas têm demonstrado que a defasagem existe desde o início do Ensino Fundamental, base da educação, quando a criança de oito anos completos não se mostra muitas vezes capaz de ler um texto simples e escrever frases curtas - e deveria! 

AlfabetizaçãoEspecial Alfabetização 
Dicas e informações para melhorar a aprendizagem da leitura e escrita de crianças e adultos.

 

Por que isso acontece? "Alfabetização é um processo cognitivamente lento, e linguisticamente também", explica a educadora Magda Soares, um dos nomes de maior prestígio no assunto no País. "O primeiro contato deve ser feito durante a Educação Infantil, mas não é o que tem acontecido no Brasil, onde há uma resistência em introduzir a criança na alfabetização desde o início de vida escolar, optando apenas em orientá-la socialmente". E o que seria, nesse caso, introduzir? "A criança é levada a perceber que as palavras escritas no livro que a professora transforma em sons quando lê para ela são formadas por letras, e que as letras representam sons da fala", detalha Magda. Dessa forma, a criança ganha consciência desde cedo de que a fala é um conjunto de sons, que vai registrar mais tarde com a escrita.


De acordo com o último Plano Nacional de Educação (PNE), crianças devem estar alfabetizadas até os oito anos, mostrando-se "... capazes de ler e escrever um pequeno texto, e de fazer inferências a respeito, o que atesta a compreensão sobre o que leram", realça Inês Kisil Miskalo, gerente-executiva de Educação do Instituto Ayrton Senna, em São Paulo. Ou ainda, como detalha oficialmente o PNAIC (Plano Nacional pela Alfabetização na Idade Certa): "Estar alfabetizado significa ser capaz de interagir por meios de textos escritos em diferentes situações; ler e produzir textos para atender a diferentes propósitos - a criança alfabetizada compreende o sistema alfabético de escrita, sendo capaz de ler e escrever, com autonomia, textos de circulação social que tratem de temáticas familiares ao aprendiz". Porém, segundo os resultados da Prova Brasil de 2012, apenas 30% dos alunos do 3º ano do Ensino Fundamental (ou seja, crianças de oito anos, em sua maioria) demonstraram ter aprendizagem adequada em escrita - muito longe, portanto da meta oficial.


O que isso significa na prática escolar? A criança, que apresenta dificuldades, não consegue acompanhar as atividades que o professor dá para a classe, o professor diz que o problema não é dele, mas sim da família que, por sua vez, devolve para a escola a culpa pela situação. Ou seja: nem escola nem família assume a responsabilidade, deixando a criança sozinha, logo ela, a personagem central de um processo em andamento, o da alfabetização. E o mais importante é que "o fracasso, em 99% dos casos, não é do aluno, mas sim de como se trabalhou com ele", diz Inês Kisil Miskalo, do Instituto Ayrton Senna.


Quando a alfabetização não aconteceu como manda o figurino, a criança fica bem para trás do desempenho do seu grupo. Começa - e de modo cascata - a não aprender o que deveria, seja em língua portuguesa, seja do que dela deriva: afinal, até para resolver uma conta de matemática ela terá de ler e compreender o enunciado. Assim, o que parece ser problema exclusivo de uma criança se torna problema do Brasil. Em redes públicas de ensino espalhadas País afora, mais de 30% dos alunos estudam em séries fora da idade ideal no Ensino Fundamental, sendo mesmo possível que até 60% desse total demonstre não terem sido alfabetizados corretamente. 
Como reverter essa situação? Para Inês Kisil Miskalo, do Instituto Ayrton Senna, é vital investir na formação dos professores alfabetizadores, que "têm dificuldade em lidar com o que acontece em sala de aula, pois foram trabalhadas na universidade muito mais na teoria do que na prática, e é justamente de prática que eles precisam ao tratar da alfabetização de uma criança". E, se muitos professores ainda não conseguem superar as dificuldades que atrapalham a criança no contato com as primeiras letras, o que dizer da família? Como detectar os sinais de que algo deu errado, melhor, não está correndo como deveria, ajudando a escola a diagnosticar a alfabetização do seu filho? A seguir, dicas de como os pais devem proceder no dia a dia a partir da experiência das especialistas e assim terem controle sobre o andamento do aprendizado, tanto da leitura quanto da escrita. Lembrem-se: criança bem alfabetizada é criança preparada para nunca mais parar em sua vida de estudante.

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